ESPIRAL DA MORTE DO ELEMENTO DENTÁRIO

August 24, 2023

A espiral da morte do elemento dentário representa toda a trajetória de um dente desde a sua primeira restauração, até que ele seja condenado a extração.

Um elemento dentário submetido a tratamento restaurador muito cedo, em muitos casos tende a passar por um " ciclo restaurador repetitivo", onde cada restauração se torna maior e mais invasiva, que depois de certo tempo resultam em falhas irreparáveis e necessidade de extração do dente.

Isso acontecia muito na época dos nossos pais e avós, por exemplo. Já que as técnicas odontológicas eram mais invasivas e não havia adesão. As restaurações necessitavam de retenção mecânica para permanecerem em posição, e para isso era necessário desgastar mais dente. Naquela época as pessoas perdiam muito mais dentes em função do "ciclo restaurador repetitivo".

Depois disso, lembro bem de quando era criança, havia uma preocupação por parte dos nossos pais, em cuidar e manter nossos dentes saudáveis, já que eles haviam sofrido com as perdas dentárias. E os dentes naturais ( sem próteses) eram exaltados, por serem mais saudáveis e mais bonitos. Eu lembro bem que ninguém queria ter uma prótese ( coroa ou faceta). Isso era motivo de estranheza entre os jovens, já que geralmente eram tratamentos para tratar sequelas de cárie, por exemplo. Todos queriam seus dentes naturais.

Porém, nos últimos anos o público jovem tem procurado cada vez tratamentos estéticos IRREVERSÍVEIS em dentes saudáveis, com PRÓTESES ( sim, são próteses) do tipo facetas e laminados cerâmicos. Tudo isso em função de um apelo estético e uma necessidade de dentes grandes e excessivamente brancos, em alguns casos beirando o ridículo.

Digamos que você aos 23 anos resolva facetar 20 dentes em busca de um sorriso mais estético. Esse tratamento vai precisar ser trocado em algum momento (não vai dizer que não te contaram isso??). Se você tiver a sorte de ter escolhido um bom profissional, isso vai acontecer lá na casa dos 30 e poucos anos. Nessa troca inevitavelmente, por mais cuidadoso que seja o profissional e tecnológico que seja o tratamento, vai ter mais perda de estrutura dos seus dentes. Essa segunda fase do seu tratamento estético também não é para sempre, então ( se tudo correr bem) lá pela casa dos seus 40 ou 50 anos, será necessário novas intervenções e trocas. Consequentemente, mais perdas. Talvez alguns desses dentes vão precisar de tratamento de canal, ou coroas. E talvez, lá na casa dos seus 50 ou 60 anos, já com perdas estruturais significativas eles precisem ser condenados e extraídos. Você terá sessenta, SESSENTA ANOS. (Agora me responde como estão hoje as pessoas de 60 anos que você conhece? E como vc se imagina com 60 anos?). Esse nada mais é que um exemplo de espiral da morte do elemento dentário.

A expectativa de vida no Brasil esta na casa dos 76 anos e segue aumentado. Talvez quando esse jovem que iniciou o seu tratamento aos 23 for idoso, a expectativa estará muito além. E novamente viveremos situações de idosos desdentados.

Você pode me dizer: " Mas hoje temos implantes!!". Sim, temos. Mas ainda assim, não são melhores que nossos dentes, nem isentos de problemas e complicações. Além do mais, é nossa última alternativa ( ou pelo menos deveria ser).

E não tenho nada contra tratamentos com facetas e laminados cerâmicos, realizo inclusive. Mas eles precisam de indicação correta. Não é para qualquer um, não é para todos os casos. Em pacientes jovens, com dentes saudáveis é necessário se pensar muito antes de sair cortando tudo. Existem muitos caminhos para melhorar a estética do sorriso, antes de desgastar estrutura saudável para colar UMA PRÓTESE ( não se esqueça disso)!!!

Precisamos ter a consciência que é melhor e mais saudável envelhecermos com nossos dentes.

Fazem 12 anos que eu acompanho pacientes idosos com próteses, sejam removíveis ou sobre implantes. E como cirurgiã-dentista, especialista em Prótese Dentária, eu posso afirmar com categoria que não é tão simples envelhecer com uma prótese. A esmagadora maioria reclama que não consegue limpar adequadamente. A higiene da prótese é diferente, e conforme vamos envelhecendo não mantemos nossa habilidade manual, coordenação motora e nossa acuidade visual para fazer a higiene das próteses fixas adequadamente. É muito mais fácil escovar os dentes naturais. E se entrarmos no assunto de pacientes com doenças sistêmicas então, onde a higiene bucal é crucial para a saúde geral, vamos longe... Em um paciente com válvula cardíaca por exemplo, a falta de uma higiene oral adequada pode trazer grandes problemas e até levá-lo a morte. SIM, é muito sério.

Por isso eu insisto tanto: PRECISAMOS ENVELHECER COM NOSSOS DENTES, FAZENDO VISITAS PERÍODICAS AO DENTISTA PARA A MANUTENÇÃO DE UMA BOA SAÚDE BUCAL.

Acho que o dentista, além de saber executar com excelência esses trabalhos, precisa também saber indicar corretamente, e ser honesto com o paciente esclarecendo essas questões tão importantes. Mais do que tudo, precisamos zelar pela saúde e longevidade dos dentes dos que em nós confiam.

Murieli Montemezzo

Cirurgiã-Dentista

Esp. em Prótese Dnetária

CRO-SC 12131

Gostou deste conteúdo?
Gostaria de conversar conosco sobre este assunto, ou marcar uma consulta? Clique no link abaixo:
Agendar Consulta