Em um mundo onde tratamentos odontológicos foram transformados em mercadoria, por um mercado voraz que só pensa em vender “algo”, pensar no bem estar e saúde do paciente vem se tornando cada vez mais obsoleto. Lentes de contato, botox, preenchimento labial, implantes e outra infinidade de tratamentos estéticos têm tomado destaque na odontologia, e me parece que a maioria esqueceu o básico, o fundamental que é construir uma relação de confiança mútua entre paciente e profissional para poder cuidar e tratar um ser humano.
E este “comércio” está tão naturalizado, que tratamento humanizado virou adjetivo para atendimentos que levam em consideração um diálogo atencioso para com o paciente. Confesso que sinto certo desconforto toda vez que ouço o termo “atendimento humanizado” sendo usado com o objetivo de “diferenciação” no mercado. A pergunta que me faço sempre é: "Não deveriam todos ser assim?". Afinal, atendemos seres humanos, foi de nossa livre escolha. Respeito, escuta e atenção não deveriam custar mais caro para ninguém, é premissa básica de quem trabalha com PESSOAS. Mas infelizmente, não é bem assim.
Com certa frequência, procedimentos são colocados à frente do paciente, ignorando toda a sua individualidade e suas demandas particulares. Não podemos perder de vista que, além de dominar uma infinidade de técnicas, é preciso saber lidar com GENTE. Não podemos simplesmente, como dentistas, nos especializarmos em um procedimento e achar que todo paciente vai querer/precisar dele. A necessidade de cada paciente vai muito além.
A premissa básica de um atendimento (humanizado) é OUVIR! Ouvir o paciente, seus desejos, experiências anteriores, necessidades, aflições, deixar que ele fale dos seus medos, da sua expectativa... E após ouvir, é preciso EMPATIA para se colocar no lugar desta pessoa a sua frente. Sentir suas dores, seus medos, suas necessidades, e agir de forma que ela se sinta acolhida, respeitada, ouvida. Sem esquecer que nunca é só um dente, uma lente de contato, um implante, um tratamento de canal... é sempre sobre um ser humano, carregando a sua história. Pessoas que estão passando por diversos momentos da vida… um novo emprego, tornando-se pai/mãe, perdendo entes queridos. Não somos iguais, não sentimos da mesma forma, seria muito raso pensar que todos os pacientes devem ser tratados da mesma forma e submetidos aos mesmos tratamentos. Precisamos saber sobre prevenção, tratamentos e condicionamento de saúde bucal, mas também sobre a individualidade humana. Precisamos recuperar a estética de nossos pacientes sem abrir mão da saúde, que vem antes de tudo.
Somente quando entendermos isso, poderemos deixar de adjetivar como “humanizados” nossos atendimentos, que já são uma relação humana por natureza.
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” Carl Jung.
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